Aprenda com Meus Erros: 9 Lições Essenciais que Tirei da Minha Primeira Produção Audiovisual

Ryan Dos Anjos

7 min read

Em 2023, embarquei em uma jornada que mudaria minha perspectiva sobre produção audiovisual. No curso de Produção Audiovisual do Colégio Estadual do Paraná, tive a oportunidade de dirigir meu primeiro curta-metragem. Foi uma experiência intensa, cheia de aprendizados que levarei não apenas para minhas futuras produções, mas para a vida.

Sinceramente, a maioria das minhas memórias daquele período são de perrengues, mas sou imensamente grato por cada uma delas e por todas as pessoas que me apoiaram. O contexto era difícil: eu trabalhava em período integral e estudava à noite. Minha rotina era uma verdadeira maratona, dormindo cerca de quatro horas por noite e mal tendo tempo para me alimentar adequadamente. Além disso, a falta de mão de obra nos obrigou a participar de pelo menos dois projetos simultaneamente.

Essa rotina desgastante impactou minha saúde e, consequentemente, meu aprendizado e o resultado final do curta. Mas, apesar de todas as dificuldades, consegui extrair lições valiosas. Separei as nove mais importantes para você.

1. Defina Bem as Funções e Responsabilidades

Durante um curso, você inevitavelmente trabalha com amigos e desafetos. Se você não tiver pulso firme para delimitar as funções de cada um, muitas pessoas ficarão frustradas, esperando algo diferente ou se sentindo deslocadas. Acredite, se você se importar com cada pitaco dado em algo que não é da alçada de outra pessoa, você vai enlouquecer.

É comum que todos queiram as funções mais "glamourosas", como direção de arte, fotografia ou roteiro. Poucos se voluntariam para as tarefas "chatas" e administrativas, como produção, ordem do dia e checklist.

Além disso, dar uma função importante a alguém não garante que a pessoa conseguirá lidar com as responsabilidades que vêm com ela. Esse foi o fator que mais me atormentou. Fazer mudanças de função no meio do processo é delicado. Na minha produção, eu transferia a responsabilidade para assistentes, mas, no final, eles acabavam fazendo todo o trabalho sozinhos. Reconhecendo o esforço, nos créditos, listei esses assistentes como os responsáveis titulares.

2. Lidar com Pessoas é o Maior Desafio

Logo no início do projeto, percebi que conciliar tantas personalidades diferentes seria um desafio maior do que os problemas técnicos. Uma produção, por mais simples que seja, envolve muita gente, e o papel do diretor é harmonizar todas as partes.

A maioria das pessoas vai colaborar, mas uma pequena parcela pode criar problemas. Se você não tomar uma atitude, essa minoria barulhenta pode influenciar o resto da equipe. No meu projeto, isso aconteceu mais do que eu gostaria. Minhas atitudes não foram perfeitas, mas foram o que eu pude fazer na época.

Expulsar alguém nunca foi uma opção, e os professores não aconselhavam. Em um caso, sugeri a uma pessoa que se juntasse a outro grupo, e a situação se resolveu pacificamente. Em outro, mais drástico, após várias conversas que não deram em nada, decidi ignorar a pessoa, retirando todas as suas atribuições e torcendo para que os problemas parassem. Curiosamente, essa foi a estratégia mais eficaz: os problemas caíram 90%. Cheguei à conclusão de que a pessoa só queria atenção.

3. Profissional ou Amigo? Os Dois Não se Misturam

Neste ponto, percebi que, se eu tratasse todos apenas como amigos, meu curta-metragem jamais seria finalizado. Entendi que precisava ser mais diretor e menos amigo. Não consegui fazer isso o tempo todo, pois exige uma certa insensibilidade que eu ainda não tinha, mas nos momentos em que consegui, o projeto andou muito mais rápido.

Essa é uma lição para a vida: em certos contextos, precisamos escolher entre ser profissionais ou amigos, pois nem sempre há espaço para as duas coisas.

4. As Limitações Técnicas Serão Refletidas no Resultado Final

Não há como fugir disso. Eu, ingenuamente, deixei alguns aspectos para a pós-produção, acreditando que poderia reverter a situação. A falta de estrutura nos estressou bastante. Tínhamos apenas uma câmera para seis grupos e precisávamos nos revezar. Acabei investindo em uma câmera própria para desafogar as gravações, o que me custou um dinheiro que tinha outros planos.

Se eu pudesse voltar no tempo, teria estudado mais sobre iluminação. O colégio tinha mais equipamentos de luz à disposição, mas a ementa do curso não aprofundou nesse tema. Tivemos poucas aulas e, sem a prática, não conseguíamos acertar os esquemas de luz rapidamente. Quando se está começando, a única metodologia é tentativa e erro, e tempo era algo que não tínhamos. Essa falta de conhecimento impactou meu trabalho como fotógrafo posteriormente.

O resultado foi um curta-metragem bem escuro, já que foi gravado à noite no colégio.

5. A Captação de Áudio Deve Ser Priorizada

Ainda falando de limitações técnicas, o áudio foi ainda mais precário que a iluminação, e isso eu coloco totalmente na minha conta. A equipe de som fez um trabalho excelente, e sou grato a eles. No entanto, o equipamento era de baixa qualidade e, para piorar, tinha um defeito que só captava o som em um canal.

Depois de várias tentativas de arrumar o problema, decidimos gravar assim mesmo, confiando que daria para consertar na pós-produção. O problema é que eu não tinha o conhecimento necessário para isso. Na época, eu usava o Kdenlive, um editor de vídeo decente, mas anos-luz atrás do Premiere. No Premiere, resolveria o problema com três cliques. No Kdenlive, procurei tutoriais em toda a internet e não encontrei nada.

Fiz um monte de gambiarras para tentar deixar o áudio mais audível, mas não foi o suficiente para dar um aspecto profissional. O problema dos canais ficou evidente e foi o que mais me frustrou no projeto.

6. Se o Tema for Sensível, Vão Tentar te Podar

Não vou dizer que fui censurado, pois censura é algo sério, mas cheguei perto. E só não aconteceu pela solidariedade dos meus colegas.

O curso era no segundo maior colégio público da América Latina, um título que os funcionários sempre faziam questão de citar. Essa fama criava uma expectativa de infraestrutura que foi rapidamente frustrada. Um colégio desse porte tinha apenas uma câmera para toda a turma. Além disso, não tivemos assistência do colégio durante as gravações. O projeto foi gravado nos períodos de aula durante a semana, pois era proibido usar as dependências nos finais de semana. Tivemos que faltar mais de 20 aulas para concluir o curta, o que gerou uma grande frustração.

Meu curta-metragem era uma crítica bem-humorada à precariedade da infraestrutura do colégio e à falta de colaboração da gestão. Após a exibição do primeiro corte, fomos informados de uma reunião de professores para decidir se meu filme seria exibido na sessão geral. Foi aí que meus colegas se uniram a mim: "Se o filme do Ryan não for exibido, nenhum será".

Depois de algumas negociações, ficou acertado que meu curta seria exibido, mas com alguns avisos no início para evitar conflitos. Pensei que o problema estava resolvido, mas no dia da exibição final, apenas as turmas do curso técnico e ensino médio compareceram, contrariando o combinado.

A lição que tiro disso é: se você protestar, será podado. Não é um julgamento de valor, mas uma constatação. Por mais bem-intencionada que seja, se a sua crítica incomodar alguém em posição de poder, eles tentarão te limitar. Essa lição me acompanha até hoje, não como algo negativo, mas como um aprendizado. Se eu fosse refazer algo assim hoje, faria de um jeito diferente para que a crítica fosse mais direta, de modo que justificasse a limitação imposta.

7. Feedback Externo é Importante, Mas Sua Intuição é Mais

Durante a produção, recebi vários "pitacos" de professores que eu respeitava. Tentei seguir todas as sugestões, mas muitas vezes elas conflitavam entre si, me deixando perdido. Depois de muita reflexão, decidi seguir apenas minhas próprias ideias e pensamentos. No fundo, sabia que essa decisão poderia afundar o projeto, mas minha intuição me dizia que era a melhor escolha.

Confiar na minha intuição foi uma das melhores decisões que tomei durante todo o processo. Foi um passo essencial para a minha construção como profissional.

8. Aprender a Lidar com Elogios e Críticas Salva sua Mente

Nesse mesmo sentido, aprender a lidar com críticas e elogios é crucial para quem trabalha com arte. A lição é simples: a mesma boca que te aplaude nos momentos bons, pode te vaiar nos momentos ruins.

Parece cruel, mas dar o mesmo peso a elogios e críticas te liberta da necessidade de aprovação. A única validação que você deve buscar é a sua. Quem realmente ama o que faz sabe quando o trabalho está bom e quando está medíocre em relação à própria capacidade.

Não me entenda mal: você deve ouvir o feedback de quem realmente entende do assunto. Mas evite os elogios vazios de quem só quer te validar, pois eles vão te cegar para suas falhas. O feedback construtivo, por outro lado, pode te frustrar no início, mas, com um pouco de reflexão, você o entenderá. O excesso de auto cobrança também é um problema, pois impede que você valorize seu próprio trabalho.

O segredo é encontrar o equilíbrio. Quando terminar um projeto, delicie-se com sua obra por um momento. Depois, com a cabeça fria, decida o que precisa ser melhorado.

9. Valorize o Resultado Final (Apesar de Tudo)

Você tem a obrigação de valorizar o resultado final, especialmente se outras pessoas estiveram envolvidas. Elas não têm culpa da sua autocrítica.

Tenho certeza de que, por mais que você odeie o resultado, o processo que te levou até ali deve ser contemplado. Se você não gostou do que fez, pelo menos sabe o que não deve fazer da próxima vez. E se você não consegue enxergar o valor disso, então, sim, todo o esforço foi em vão.

Essa jornada foi, sem dúvida, uma montanha-russa de emoções e aprendizados. Olhando para trás, percebo que cada dificuldade, cada frustração e cada erro foram essenciais para me moldar como o profissional que sou hoje. O curta-metragem pode não ter sido a obra-prima que idealizei, mas ele é a prova viva de que, no audiovisual, assim como na vida, a maior recompensa não é a perfeição do produto final, mas o crescimento que o processo nos proporciona. E é esse crescimento que nos prepara para os próximos desafios, com mais sabedoria, resiliência e, claro, um senso de humor afiado.

Considerações Finais

Vôce também pode me encontrar em: